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Intrusas em campo (Personalidades femininas no jornalismo esportivo)

Mas no Brasil que é considerado o país do futebol, trabalhar com jornalismo esportivo demonstra ser a última área em que uma mulher possui competência para exercer sua função.

Quando questionada sobre o que elas precisam encarar dentro de campo afirma que:

"Eu sempre trabalhei com um lado só do fone de ouvido nas transmissões, por uma questão técnica fico com um ouvido na transmissão e outro no ambiente do estádio. Porém, de uns tempos para cá parei, coloco o retorno nos dois ouvidos, no último volume. Não sei mais o que falam e se falam". (Ana Thais Matos, comentarista do SporTV,2018.)

Embora os números estejam crescendo, as profissionais do gênero feminino atuando em canais fechados não passam de 13%, boa parte delas como repórteres de campo. Nas rádios, as inclusões femininas estão chegando ao público como um experimento, sem nenhuma certeza de que serão realmente contratadas para esse cargo, uma vez que esse cenário foi predominantemente composto por homens.

O mercado do jornalismo esportivo, parece ainda não acreditar no potencial das mulheres para atuar no ramo. Muitas vezes quando estão executando suas atividades profissionais são atacadas e agredidas por torcedores na arquibancada, e até mesmo por técnicos e jogadores.

‘’Quando Glenda Kozlowski participou de uma inédita narração esportiva na Rede Globo, foi chamada de “louca histérica” por internautas. Na Alemanha, Cláudia Neumann, a primeira mulher a narrar uma partida da Eurocopa masculina na televisão alemã, foi crucificada por ser mais uma mulher no futebol. Após o feito histórico, foi acusada de ter uma“voz irritante” e ameaçada de estupro por alguns telespectadores. Enquanto faltam mulheres atuando nessa área, ainda sobram clichês e preconceitos.’’ (Vitor Magalhães,2018, Medium)

Infelizmente a mulher é vista como uma musa, presença confirmada apenas para agradar e sensualizar, tudo funciona como se ela estivesse sempre tentando provocar de alguma forma o homem, mesmo que ela só esteja exercendo sua profissão.

Bolsa Redonda: "o que é segundo pau" Exibido entre 2013 e 2014 dentro do Esporte Espetacular, o quadro capitaneado por Fernanda Gentil prometia uma visão feminina sobre futebol. Discussão sobre atributos físicos de jogadores ou "coisas fofas" do esporte dominavam a pauta. Cabia à escritora Thalita Rebouças o papel de desinformada, alienada a respeito de termos básicos como "gol fora" ou "jogador de base". Em um episódio, o Bolsa Redonda usou um infográfico visual para explicar o que significa "segundo pau". (UOL Esporte,2018,p.2)

Extraordinários: Maitê é a humorista No programa do Sportv, Maitê Proença surge mais como uma adição humorística. A atriz já fez um strip-tease para celebrar a volta do Botafogo à primeira divisão e comparou famosas fotos de Pelé e Maradona pelados. Por outro lado, a integrante da atração também gravou um boletim mais sério junto com o repórter Mauro Naves, comentando o noticiário da seleção. (UOL Esporte,2018,p.2)

Arena SBT: a musa do programa O SBT até cogitou fazer um investimento na área esportiva nas noites de sábado, mas ficou só quatro meses no ar. Os homens sempre estavam vestidos com terno enquanto o figurino de Lívia Andrade nunca mudava: roupa curta. As outras mulheres que participavam da atração, inclusive as repórteres, usavam mini saias e tinham o lado sensual explorado até quando o assunto era um quiZ com convidados, como Vampeta. (UOL Esporte,2018,p.2)

Boa parte dos programas de televisão, principalmente aqueles que tem quadros com debates, a presença feminina precisa estar sempre provando que entende e que sabe de futebol, surgindo até perguntas para duvidar de suas respostas e pontos de vista, como ‘’Mas então me diz o que é um impedimento?’’ Para termos como este e aqueles que são mais aprofundados, a figura feminina sempre entra como uma opinião não válida. Segundo o relatório Mulheres no Jornalismo Brasileiro,

83,6% das jornalistas que responderam a pesquisa já sofreram algum tipo de violência psicológica, 65,7% já tiveram sua competência questionada e 64% já sofreram abuso de poder de chefes ou fontes. (Abraji e pela Gênero e Número, em parceria com o Google News Lab,2018.)

Apesar de ser maioria nas redações recentemente (64%, segundo a Federação Nacional dos Jornalistas), apenas 7% das mulheres assinam matérias sobre esportes. Ter a presença feminina na equipe esportiva faz toda a diferença no resultado final, elas trazem uma nova forma de olhar a cena, coisas que muitas vezes escapam aos homens, não passam desapercebidas por elas. Mulheres vão lá e fazem tão bem quanto, ou até melhor.

Isso torna a presença da mulher como um ser humano sem competência para falar de tal assunto, principalmente quando entra em um patamar mais tático. Já no dia a dia, a jornalista que escolhe se impor e falar sobre a sua convicção a respeito de assuntos como o esporte, enfrentam ainda mais uma enraizada cultura machista. E as amantes de futebol continuam a se questionar até quando o machismo vai continuar sendo um triste padrão para aquelas que atuam como profissionais da área.